RELACIONAMENTOS, CICLO SOCIAL E INFLUÊNCIA NA SUA SAÚDE FINANCEIRA

Nossa história é marcada pela influência do meio em que vivemos                                                   Por Elem Megaretes – 14.07.22

Apesar de sermos seres humanos únicos, com características biológicas, comportamentos e talentos diferentes, muito do que nós somos sofre fortes influências do meio em que vivemos e dos relacionamentos que construímos ao longo da vida.

Ou seja, nossa vida reflete a vida do nosso meio. Independentemente do tipo de educação que você teve, da sua cultura familiar e dos seus talentos, que é seu jeito único de pensar, sentir e se comportar, você sofreu influência, quando criança, do ambiente da sua escola, dos amigos e de todo ecossistema em que você brincou, estudou e se desenvolveu.

Sua personalidade sofreu fortes interferências de todo ambiente. E leia-se ambiente: casa, escola, religião, vizinhos, redes sociais, geografia, clima, tradições culturais etc.

E toda essa intervenção tem um papel fundamental, também, na forma como você lida com o seu dinheiro.  

Por exemplo: se você cresceu assistindo seus pais brigarem por dinheiro, reclamarem que o dinheiro nunca era suficiente mesmo sentindo a ausência deles em casa porque estavam trabalhando muito, provavelmente, você cresceu achando que dinheiro é algo muito difícil de conseguir e quando ele chega nunca é suficiente.

Um outro exemplo é quando você foi para o mercado de trabalho, o meio em que você estava inserido todo mundo adorava ostentar, trocar de carro todo ano, ter muitos cartões de crédito, e as pessoas que pareciam ter mais dinheiro tinham mais amigos,  você provavelmente, para ser aceito e considerado importante, também embarcou nessas de trabalhar, ganhar, gastar tudo em consumo, vivendo como se não houvesse amanhã.

Ou seja, o meio em que você vive, influencia para formar crenças, desencadear hábitos de consumo, e manter comportamentos de uso do crédito equivocados. Do tipo só comprar parcelado, usar o cartão de crédito como extensão da renda, e não planejar o futuro.

E isso é tão forte que mesmo quando você adquire consciência desse sistema de influência, modificar padrões negativos de comportamento será bastante difícil se você permanecer apenas nesse meio e não buscar a força do grupo em outro ambiente.

Dizem que nossos comportamentos e nossas conquistas pessoais é a soma da influência das 5 pessoas mais próximas e íntimas que convivemos diariamente.

Se estamos falando de formar um novo modo de se relacionar com nosso dinheiro, construir um novo padrão de comportamento com nossas finanças e sabemos que nossas crenças financeiras são resultado também do nosso meio, isso irá implicar em escolher conscientemente as pessoas que vamos conviver no dia.a.dia.

Se você está com a vida financeira desorganizada, provavelmente está cercado de pessoas que também estão. Para que você reforce os novos comportamentos de controle, organização, disciplina e autoconsciência, você precisará estar ao lado de pessoas que já fazem isso. Pois aprendemos e reforçamos o que aprendemos através da observação de ações de outras pessoas. Quando observamos temos a tendência de adotar os mesmos padrões de comportamento e isso a ciência já comprova a partir dos estudos do neurofisiologista Giacomo Rizzolatti.

Em 1993 Rizzolatti e sua equipe de pesquisadores da Universidade de Parma, descobriram uma classe específica de neurônios que é ativada quando uma ação é executada, e, também, quando é observada enquanto é realizada por outras pessoas.

Esses neurônios espelham em nosso cérebro as ações que vemos nos outros, iniciando uma espécie de simulação interna daqueles atos. Eles descobriram isso enquanto faziam um experimento com macacos. Eles perceberam que a simples observação ativava as mesmas regiões do cérebro dos observadores, normalmente estimuladas durante a ação

Eles deram o nome a esses neurônios de neurônios-espelho

Os neurônios-espelho do observador “refletem” o comportamento contemplado como se o próprio observador sentisse e percebesse a mesma experiência e as mesmas sensações daqueles que realizaram a ação, como se também o observador a estivesse realizando.

Ativamos os neurônios-espelho também na percepção das emoções dos outros, na observação das expressões do rosto, dos gestos, no tom de voz e nas posturas. A capacidade de codificar instantaneamente essas expressões da linguagem não verbal, permite ao ser humano ser capaz de agir, com base em um mecanismo chamado de participação empática, pois a compreensão das emoções que observamos nos outros, despertam também no observador, a manifestação “espelho” das mesmas emoções.

É essencial entender desde o momento que nascemos, como ocorre nosso aprendizado por imitação e conexão com nosso meio ambiente. Se vemos alguém bocejar, também temos vontade. Se alguém sorri para nós, sorrimos de volta. Se vimos uma cena terna em um filme, isso também nos causará um sentimento de ternura. Se observarmos alguém se machucar, algo é ativado dentro de nós que quase nos faz sentir a mesma dor.

Os neurônios-espelho nos ajuda a nos colocarmos no lugar do outro, ativando a empatia e emoções contagiosas com os outros. São os grandes provocadores da comunicação não verbal com aqueles que nos rodeiam. Eles ativam o sentimento de pertencimento e proteção. Sentindo e não pensando, ele nos ajuda compreender as ações, emoções e intenções dos outros.

E o que isso tem a ver com finanças?

A neurociência descobriu o que a propaganda já usa há muito tempo. Ou seja, fazemos mentalmente tudo que assistimos o outro fazer e concretizamos em ações o que já fizemos na nossa mente.

Quando vemos uma propaganda de uma mulher linda, usando um carro maravilhoso e fazendo compras de luxo usando um cartão de crédito black, vivemos na pele aquela cena e rapidamente estaremos eufóricos para ter e usar o nosso cartão black. Mesmo que estejamos desorganizados financeiramente.

Os neurônios-espelho nos fazem imitar mutuamente os comportamentos de consumo dos outros. Assim, se vemos alguém com um produto diferente, nossos neurônios-espelho desencadeiam em nós um desejo de ter aquele produto.

O comportamento de outras pessoas afeta nossa experiência de consumo e, em última análise, influencia nossas decisões de compra.

Os exemplos

Os exemplos são poderosos. A própria ideia de exemplo, é a ideia do neurônios-espelho. Uma criança de 3 anos de idade repete praticamente tudo o que um adulto relacionado ao seu ambiente faz. Desde o jeito que fala, até o jeito que mexe. Está tentando aprender através da imitação. Assimilar através do exemplo.

Por isso é tão importante para a formação de uma criança que os pais também sejam exemplos de organização e gestão das finanças pessoais. Pois filhos de pais esbanjadores tendem a ser esbanjadores. Se os pais possuem um relacionamento de escassez com o dinheiro, falando e demonstrando que o dinheiro é muito sofrido e nunca dá, ou que se tem dinheiro é para ser gasto até acabar, os filhos tenderão a repetir esse mesmo padrão de comportamento, pois será a forma que eles entenderão ser normal.

E quando esses filhos se tornarem adultos e se enrolarem com as finanças, ainda culparão os pais por terem sido maus exemplos.

Neurônios espelho e consumo

Comprar pode se tornar um vício e é fato que sim, pois o consumo libera felicidade, mesmo que por um prazo curto, em função do hormônio dopamina.

Quando decidimos comprar algo, nosso cérebro libera o hormônio dopamina, que causa uma forte sensação de bem-estar, que por sua vez alimenta o comportamento de continuar comprando, ignorando os apelos racionais. Ele é considerado um hormônio da felicidade por causar essa sensação de bem-estar e prazer, mas é diferente da serotonina. Nesse caso o prazer está ligado com ciclo de recompensa, de você alcançar um objetivo e ter aquela sensação de uma boa conquista.

É por isso que podemos ser tomados por desejos incontroláveis de consumo quando observamos outras pessoas usando um IPHONE ou uma bolsa de marca. Na verdade, o que nos invade é um desejo intenso de ser como elas, e lógico, para realizar isso precisamos COMPRAR.

É o consumo da imitação. Ativam o desejo de ter o tênis que nosso atleta favorito tem. Eles provocam a satisfação de ter um carro de alto padrão que nos dá uma sensação de status dentro do nosso grupo.

As grandes marcas e lojas sabem e exploram essa sensação de pertencimento. Ao comprar de uma marca forte, que possui pessoas bonitas, em ambientes lindos, o consumidor se sente “um deles”. Sente-se mais popular e melhor, devido aos neurônios-espelho. E esse ciclo sem consciência é uma das grandes causas de endividamento no Brasil, onde o crédito é fácil e caro.

Conclusão

Todo conhecimento gera responsabilidade e, se somos capazes de compreender nossos comportamentos irracionais, também seremos capazes de controlá-los. Caso contrário nos tornamos vítimas da manipulação através da ciência. Pois o marketing usa o conhecimento do neurônios-espelho para fazer o consumidor comprar, se tornar leal as marcas e ainda para manipular principalmente em idades mais jovens.

Todo mundo já comprou alguma coisa da qual se arrependeu depois. Em alguns casos, antes de comprar já sabíamos que nos arrependeríamos. Mas compramos, seja pela sensação de bem-estar associada ao consumo, seja porque precisávamos nos sentir parte do grupo.

Então, com o conhecimento de como esses processos funcionam em nossa mente e com a consciência gerada por eles, temos elementos para reagir de forma proativa, escolhendo com critério nossas opções de compra e consumindo de forma responsável, inteligente e coerente. Somente aprendendo a consumir para viver e não a viver para consumir é que seremos capazes de conquistar a organização financeira e construir nossa liberdade financeira na maturidade.

Elem Megaretes

14.07.22

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